| TENDER ARCHIVE |
14 agos
12 Campanhã
Sento-me
2 minutos antes do comboio partir.
Penso nos
pendentes e relatórios e faturas que deixei no trabalho.
E clicko
em delete.
Borrar.
Cancel.lat.
Ara nomes
parlo català.
15 agos
12 Mallorca (Sóller)
Quem chega a Sóller pensa que está num vale entre montanhas de um país
alto e longínquo.
A igreja
é delicada, e de uma pedra demasiado macia e rosada para só contar com estas
altitudes.
A verdade
é que um ou dois quilómetros à frente encontra o Port de Sóller, a água
cristalina, e os montes vão-se baixando como um leão adormecido sobre o mar.
16 agos
12 Mallorca (Sa Calobra)
Quem atravessa a Serra Tramuntana quase se esquece do litoral ao
ver as placas de atenção ao gelo e cuidado com a neve.
- Como
nove níveis de Dante que levam ao Paraíso, a estrada vai-nos provando e
tentando; nós vamo-la penteando e seduzindo, piano piano. Mediterraneamente. -
Lá em
cima uma esfera enorme marca os 1445m, mas lá em baixo o mar espera.
Tranquilo
e turquesa.
Quiçá
como abriu passagem entre as 2 paredes de Torrent de Pareis, onde ver um hobbit
num barquinho pareceria normal.
17 agos
12 Mallorca (Es Trenc)
Deixámos
a Suíça e seguimos para Sul, na direção de África.
Deixámos
as montanhas da Serra Tramuntana, as estradas encaracoladas sobre si mesmas e
fomos pelas retas que cortam a planície vermelha de olivais do Sul.
Es Trenc.
As
Caraíbas.
Pero en
la vez de las palmeras, están los pinos.
Não era
exagero.
A água
pedia para ficar, para flutuar, para adormecer nela.
Num
acesso de mistura de estados.
17 agos
12 Mallorca (Palma)
O
viajante que chega a Palma fica confuso entre Barcelona e a Andaluzia.
A
catedral impõe-se maternal e flamejante, como o gótico espanhol que a desenha,
a monumentalidade em redor situa-o na capital catalã, mas o núcleo enriçado
ainda é árabe, e há ruinhas de Alfama por onde o calor passeia, pelos degraus
gastos de pedra calcária e rosada.
19 agos
12 Porto
Chegar ao
Porto.
Seguir o
Douro.
Perder o
Douro.
Seguir o
pôr-do-sol, que já foi engolido pelo mar.
Reencontrar
o Douro, já largo e lento, cruzado pelas pontes, cheias de luzinhas vagarosas.
O senhor
da frente descreve a paisagem à menina:
- A torre
da RTP, os Aliados, o palácio de Cristal...
Misturo o
que vejo, o que oiço e o que penso.
O Porto
de Leixões. A Petrogal...
- Nunca
fui à Petrogal, papá...
É dos
sítios mais lindos do Porto.
Tal como
o gasómetro de Roma.
Chegámos.
19 agos
12 Porto
Ainda
tenho no porta-moedas um pacotinho de açúcar dobrado, aberto por engano.
- Um dá
para os dois, Joana.
È vero.
Tenho
Doors nos ouvidos desde Palma.
Tomo um
duche, ganho a pele do Porto.
Nos
cabelos ainda fica a de Mallorca.
Ponho as
férias na máquina de lavar.
Coço as
picadas de melgas, deixadas como souvenirs na pele.
Visto o
pijama novo que o calor da ilha não deixou estrear.
Bona nit. Jo
Sem comentários:
Enviar um comentário