11.01.2012

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18 set 12 Istambul

Istiklal Caddesi;
Londres em Istambul.
Ou Sta Catarina.
Ou a Baixa de Lisboa.
Ou Porta del Ángel.

Ao chegar, a decadência.
Casas de traça antiga abandonadas, vazias e escuras.
Ruas por cima e por baixo.
A passagem do Corno de Ouro para Beyoglu.
Tantos navios e petroleiros.
Estrategicamente neste mar.
Os minaretes e cúpulas entre a especulação.
O canto do muazim entre as buzinas frenéticas.
Os táxis amarelos.
Parados no trânsito, debaixo de um viaduto.
O espaço repleto de bicicletas.
Arrancamos.
Chuvinha que molha tolos pegajosa no corpo.
Mercado do Peixe para jantar.
Uma viagem de Chihiro pelas ruas de Sahne Pok e Nevizade.
Uma espetada bem temperada de peixe fresco e uns pimentos tão picantes que tornaram a água doce.
Cheiro de castanhas assadas na rua.
Maçarocas de milho.
Mexilhões cozidos só com limão.
Carrinhos de fruta fresca.
E uma bandeira magnética na praça de Taksim.






18 set 12 

A lua recortada como na bandeira.
- Sabes por que é que a bandeira é assim?
- Hmmm...
- Porque se diz que numa batalha[1] qualquer houve tanto sangue que se via o reflexo da lua.
- E a estrela? Seria Vénus que estava por perto?
- Seria Vénus que estava por perto.

Um gato no colo depois de cruzar tantas ruas.
Alfama, Raval, Quartieri Spagnoli.
Chegamos ao hotel.
A seguir chegou a multidão, depois do jogo do Galatasaray.
Estavam todos cá dentro.





23 set 12

Istambul é densa como o gelado; servido com uma lâmina compridas, as fatias desfeitas sobre um cone, como as velhas casa de madeira.[2]
Pegajoso, como o ar que passeia pela cidade e traz cheirinho do peixe do Bósforo grelhado e metido no pão, maçarocas de milho e castanhas assadas.
As mesquitas parecem indiferentes; suspensas, concentram-se na etereidade.
Mais acima ficam os terraços, que nos roubam do corre-corre e põem a cidade em standby.
Entre os minaretes as bandeiras gigantes.
Majestosas, magnéticas.
Esvoaçam em slowmotion.
E lá ao fundo a lua recortada como no tecido.






23 set 12

Os gatos de Istambul não têm fome.
Passeiam-se felpudos e dengosos, ansiosos por mimo.
As mulheres alternam o Niqab completo preto, com o Hidjab na cabeça ou simplesmente nada...
Muitas vezes bem maquilhadas, com óculos, sapatos, carteiras de marca e telemóveis de última geração.
Os homens olham-me surpreendidos quando vou contra eles sem querer.
Evitam sentar-se ao meu lado no metro.
Se sim, sentam-se em metade do banco, para não me tocar.
Habituei-me a ter o olhar alto e perdido; ou baixo e vago, para não os olhar nos olhos.
E também evitar os negociantes.



[1] (batalha de Kosovo em 1448)

[2] Kornak

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