TENDER WONDERLAND
Aeroporto de Lisboa 1
Mai 13
O mar de nuvens como
claras em castelo.
O descanso fresco em
Roma e pizza e gelado à noite.
O regresso à Costiera
Amalfitana, os sacos de lixo pendurados à porta, as plantações de limões
encavalitadas em socalcos; o olho do auditório de Niemeyer pendurado em
Ravello, le scialatielli con le vongole enquanto a encosta anoitecia no
terraço, e a vista repetia-se no quarto.
De tal forma que
ninguém fechou as cortinas.
De manhã a chuva a
ensopar as malas, as ruinhas e escadinhas floridas, as sandes de mozzarella de
búfala de Battipaglia, os templos gregos e rosados de Paestum.
A piazzetta de
Castellabate e o nosso terracinho para o mar;
somos bem-vindos ao
Sul!
Aperitivo à beira-mar
em Santa Maria di Castellabate e o calorzinho a chegar.
Acordar com o Verão
no terraço e prosseguir para Sul.
O semáforo infinito
de Pisciotta e a estrada enrugada e estriada pelo abatimento de terras.
Capri e Ischia
diluem-se no horizonte.
3 banhos na água
ainda fresca do Mediterrâneo.
Acquafredda, Maratea
e o porto.
Viramos para Este. As
montanhas deslizam e já se chamam colinas.
Verdes verdes verdes
com flores carmim.
Estradinhas
enrodilhadas até que Matera começa a aparecer nas placas.
Quem chega à
Jerusálem da Basilicata fica no trânsito da hora do almoço, ao sol, enquanto um
bando de miúdos e adolescentes saem e invadem os passeios.
Passa-se a
universidade e o centro atual da cidade.
Estacionamos.
Abeiramo-nos a um
ponto panorâmico e é difícil acreditar.
As casas calcárias
suspensas na encosta infestam tudo, como num cenário perfeito.
E lá atrás, depois da
depressão da terra, ergue-se nova colina, com rochedos intactos, algumas
igrejas rupestres escavadas na pedra.
Pausa numa praça que
parece tirada de Siracusa, prato típico e fresco com pão materano, tomate, cebola,
rúcula, mozzarella e um azeite maravilhoso.
E um vento começa a
soprar e a pedir-nos para ir.
Descemos as
escadinhas e entramos na Judeia.
É mais uma das
cidades invisíveis.
Muito mais clara e
mediterrânica do que as imagens sombrias nos propunham.
À direita ficam as
casa troglodíticas, escavadas na terra, um tempo habitadas por 15000 pessoas e
abandonadas em ’52, quando criaram uma outra Matera.
A Matera medieval
continua para cima, até à catedral, com uma torre que eu vejo árabe.
As escadarias dos Cristos
de Pasolini e Mel Gibson.
Continuamos para
Este.
Depois da cidade que
morre fomos ter à cidade que fica de pé quando o mundo acabar.
Cisternino.
Ruas brancas, cheiro
de roupa lavada, labirínticas mas igualmente curtas, que nos deixavam
encontrar-nos outra vez.
Passar e deixar a
bagagem nos trulli e um toca e foge
ao Adriático, apesar de deste lado não haver pôr-do-sol.
E à noite, Ostuni, a
cidade branca.
La taverna della
gelosia e receitas medievais para celebrar 8 e ½.
Girar a agulha para
Norte, parar em Podigliano a Mare, cidadezinha encavalitada nos rochedos, outra
vez branca, a água bem turquesa.
A sandes de polvo
grelhado.
- Têm que a comer já,
hein? E com o mar em frente.
Seguimos pelas
ruinhas brancas até encontrar um banco à beira-mar.
- Ainda dá para ir a
Castel del Monte?
Ainda deu.
Para ver o shakra da
terra que me deixou curiosa há uns anos numa etiqueta de um vinho, e que de vez
em quando aparecia nas moedas de um cêntimo.
Uma construção
perfeitamente octogonal com 8 torres octogonais no alto de uma colina que porém
não é estratégica, e que faz pensar que este não era bem um castelo.
A estrada virou para
Oeste e seguiu para Norte.
Como no regresso de
Córfu, Caianello ou auto-estrada?
Caianello.
Saída para Benevento
com as mãos a pingar daquela laranja maravilhosa pugliese do pequeno-almoço ao
sol.
Entretanto íamos
lendo a história de Federico II do Castel del Monte, da Sicília, de Jerusálem e
do Sacro Império Romano Germânico.
Chegar e encontrar
Roma demasiado maquilhada; pó talco no ar que não deixa respirar.
Cansaço e o mood de
partida a infiltrar-se no estômago.
Acordar, parabéns,
estômago inquieto, presente para morder a vida, trânsito para o mar, celebrar
com churrasco e amigos, trânsito para o aeroporto.
Decorar os olhos tão
azuis e trazê-los comigo.
A pele queimada do
sol e os beijos de café.
Parar em Lisboa, as
pontes iluminadas pela data especial.
Recarregar energias
numa chaise-longue e o i-pod num dos carregadores à disposição.
Quase casa. JO
Sem comentários:
Enviar um comentário