| TENDER WONDERLAND |
Vinha a dormir quando o chão me chamou a atenção; por que é que há paralelo na auto-estrada?
Estávamos a chegar.
Arrasto-me para casa, tiro a maquilhagem esborratada, azul nos olhos e vermelho nos lábios; os caracóis na testa despenteada, já não consigo sair dos anos 80.
Penso em dormir sem pijama, o sushi encheu-me e não me apetecem elásticos.
A máquina lavou.
Penso em esvaziá-la.
Está trancada.
Desligo.
Estalinho.
Abro.
Água invade.
Hmm?
Fecho e vou buscar a esfregona ao terraço; foi ficando à chuva na esperanca de enxugar.
Mudo o programa e forço a centrifugação.
Lavo os dentes.
Não oiço a máquina.
Abro a porta da cozinha como quem abre um roupeiro, está encravada na mesma.
Rodo, tento, forço, bato.
Penso no Feng Shui e na falta dele nos electrodomésticos avariados. E penso no viver sozinha. E no Feng shui de novo.
Vou enxugando o chão com a esfregona molhada.
Decido abrir a máquina. A água inunda tudo, não cai toda para o alguidar porque é demasiado fluída e senti-la nos pés é quase uma imagem de Verão.
Como a do terraço com 2 dedos de água, a cadeira desdobrável no meio e o sol a bater. Desentupi-o mas a partir dai só choveu. Dia sim dia sim e sia dim.
Mas esta água é gelada e só traz lixinhos de outrora, de outras vidas desta casa.
Lembrei-me do filtro. Arranco o rodapé da máquina e rodo.
A água sai ainda com mais força. Chuva rasteira gelada a invadir tudo, mas assim descubro a meia rasgada que estava a entupir o Inverno. Arranco-a mas a água é tanta que não me deixa fechar de novo o filtro.
Mas fechei, enquanto a chuva se espalhava... e rodei e encaixei.
O tapete da cozinha e a esfregona ficaram inúteis.
Três toalhas de banho a enxugar este chão, piscina de Verão gelado, sob sol comprido e fluorescente.
O esforço arranca-me o verniz vermelho das unhas enquanto a máquina centrifuga.
A roupa estende-se amanhã.
Vou dormir. Sem pijama. Porque o Inverno já se está a ir.
Já centrifuguei as nuvens. JO
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