| TENDER WONDERLAND |
11 dez 12 Porto
23:39
Desconsigo escrever
ao computador, não há mais ideias nem adjetivos, muito menos em inglês.
Doem-me as costas.
Apago o aquecedor, e
enrosco-me na cama.
12 dez 12 Porto
06:30
Ignoro o despertador,
mas hoje não me posso deixar ficar.
Acendo o aquecedor.
Arrasto-me enquanto me visto. Aqueço o leite, acabo o açúcar, hoje tenho mesmo que ir ao supermercado.
Como qualquer coisa à beira do computador, continuo a inventar adjetivos em
inglês enquanto avalio colegas quase desconhecidos.
07:37
Saio, ponho as luvas,
os dedos de fora, os fones nos ouvidos, o Seu Jorge a trazer calor. O café
curtinho com o sorriso da menina que se esqueceu do meu troco e se desfaz em
desculpas.
08:04
Chega a boleia,
reacende o computador, continuo a adjetivar.
08:54
Chegamos às Taipas,
hiberna o computador, sobe as escadas...
18:11
Desce as escadas a
correr, nem dá para ir à casa de banho.
Os adjetivos dos
outros e os pessoais ficaram todos entregues.
19:10
Chega ao Porto, troca
de carro. Hoje tenho outra boleia, mesmo de Gaia e aflitinha para fazer xixi,
deixa-me na maternidade.
Saio a correr,
debaixo da chuva fininha e persistente. Atravesso a enorme estrada paralela ao
“jardim” da Júlio Dinis. Chego ofegante.
- Vá lá num instante que a visita já
acabou...Não precisa de deixar o documento.
Subo ao 1º andar.
- Vê lá se a Joana disse alguma
coisa...
- Olha, está aqui...
As barrigas de
grávida são uma coisa mesmo especial.
Falo de toda a gente que conheço que nasceu com 8 meses, e acabo por a fazer rir enquanto faz o
CTG e a bebé vai escapando aos elásticos que tentam ouvir o seu
coraçãozinho.
- Vou indo, que ainda vou às compras.
- Vai, vai, se não fica tarde.
Beijinho na testa,
beijinho na barriga.
O cheiro da comida de
cantina aquecida nas escadas.
- Até amanhã.
- Até amanhã menina.
Caminho ao lado da
chuva e penso na quantidade de abraços que trago no corpo, e sinto-me
imensamente rica.
Desço à Dom Manuel
II, continuo para a esquerda, chego à paragem do Santo António. Espero.
Já tenho de novo o
Seu Jorge a embalar-me.
- Passa no Campo, não é?
20:17
Entro no
supermercado.
Fruta, salada,
verduras, pão, papel higiénico, sal, açúcar, peixe congelado, iogurtes...
O cesto a abarrotar
faz-me derrubar delicadamente uma montanha de chocolates de Natal... vão
deslizando, enquanto um casal me ajuda a evitar o derrame de Baci.
Chego à caixa, pouso
tudo, ainda vou buscar queijo.
Quando volto o menino
tinha trocado e estava na caixa.
- Boa noite
- Boa noite
- Vai desejar saco?
Aquele sorriso tímido
veio carregadinho de energia. JO
Sem comentários:
Enviar um comentário